“Não falarei aqui sobre tecnologia ou sobre como você deve se comportar nas redes sociais, mas sim sobre uma mudança estrutural que começa com você”.
Ajustar uma empresa à economia digital e assegurar que o digital está no core do pensamento do seu negócio não é o tipo de missão que possui uma receita de bolo – ou que funciona como um passe de mágica. É preciso tempo, energia e uma disposição à transformação no seu DNA organizacional.
Por isso, ao longo deste artigo procurarei, a partir de uma reflexão, propor quais são as ações para transformar-se digitalmente e o que isto significa. Ainda que muitas destas ações tenham sido validadas, seu trabalho será pegar estes conceitos e colocá-los em prática – encorajando, inclusive, seu time e os líderes da sua empresa.
Não falarei aqui sobre tecnologia ou sobre como você deve se comportar nas redes sociais, mas sim sobre uma mudança estrutural que começa com você. Vamos lá?
Rompa as barreiras da sua estrutura organizacional
É muito comum empresas com estruturas muito robustas não terem uma estratégia digital bem-sucedida. A internet possui algumas particularidades que simplesmente não se encaixam harmoniosamente dentro das rígidas estruturas hierárquicas presentes na maioria das grandes organizações. A web demanda uma adaptação rápida e de constante colaboração por parte de pessoas com competências muito distintas.
Isso significa que o poder de decisão deve estar com estas pessoas que, diariamente, trabalham com o digital, pois são elas as únicas capazes de tomar decisões rápidas e que tem impacto direto nos resultados – não as deixe na espera pelo consentimento da alta gerência para dar respostas ao que “ser digital” representa e requer. Empodere-as.
Falo isso porque sei o quanto a burocracia atrapalha no desenvolvimento de qualquer companhia e o quão caro essa conta sai. Por isso, entenda que a transformação digital está essencialmente relacionada ao seu modo de pensar.
Não tape o sol com a peneira ao dar os primeiros passos
Há uma expressão, avoid papering over the cracks, que amadoramente traduzi como “tapar o sol com a peneira”, citada por Paul Boag – designer britânico de quem acompanho o trabalho faz um tempo – em seu livro Digital Adaptation e que deixa claro como é comum as empresas assumirem uma roupagem digital, forçando uma presença online sem o mínimo entendimento do que isto significa, deixando de lado quem verdadeiramente importa neste processo: o cliente, que por sinal é muito diferente do que foi há alguns poucos anos atrás.
Enquanto muitos gestores – já experientes – sentem certo medo do digital justamente porque eles não o entendem, outros não reconhecem sua real importância e valor e, por consequência, não investem tempo e dinheiro necessários.
Eu claramente me recordo as inúmeras vezes que fomos contatados por empresas de diferentes segmentos, aqui na Agência WCK, para, por exemplo, redesenharmos seus websites e o quanto ainda existe de miopia sobre o significado de ter um website focado no cliente – e não me refiro aqui tecnicamente – dentro da estratégia de uma companhia que deseja se transformar digitalmente.
Estas empresas tentam reproduzir na internet tudo aquilo que nitidamente sempre foi offline e que não funciona na web. É como ter um catálogo online mantido pelo departamento de marketing e que dá suporte à equipe de vendas – acredite, há muitas empresas que ainda pensam isso sobre o digital. Falta a compreensão de que a internet é uma via de mão dupla e que engajamento é premissa para o diálogo entre empresa e consumidor.
Neste quesito, tapar o sol com a peneira seria tentar se maquiar digitalmente sem entender o real propósito disto e o quanto toda e qualquer mudança deveria partir de dentro para fora – tal como as pessoas, as empresas – que, por sinal, são constituídas por indivíduos – também precisam compreender a razão que as motivam a fazer o que fazem. Afinal, para quem não sabe para onde ir, qualquer caminho serve.
Ser digital, portanto, não é ter um site atraente, não é mudar a identidade visual da sua companhia, contratar as melhores ferramentas e muito menos estar nas redes sociais – ou patrocinando aquele blogger badalado. É ter claro quais são os objetivos da organização como um todo, clareza sobre os entraves burocráticos que as impedem de crescer e até onde se está disposto a mudar o modo de pensar para, então, mudar o jeito de ser – na percepção dos seus clientes – e naturalmente ser digital first, ou seja, digital por padrão e não por imposição.
A transformação começa a partir do entendimento de que ser digital não é ser tecnológico
Recentemente escrevi um artigo que leva o título “Ser digital não é ser tecnológico” em que tento provocar o entendimento de que o digital não é apenas um canal de comunicação, mas, sim, o rompimento das estruturas organizacionais citadas acima – a mudança cultural em si.
Ainda que sua empresa seja altamente tecnológica e/ou adote os melhores softwares, isto não faz dela uma organização pronta e verdadeiramente digital.
“A verdadeira cultura digital é a amálgama de liderança, valores, comportamentos e experiências que ajudam uma organização valer-se ao máximo das oportunidades criadas pelo digital.”
Não vou entrar no âmbito do quanto a tecnologia em si, no final das contas, pouco tem relação com ser digital, mesmo porque no artigo citado acima já há profundidade o suficiente no tema e não quero ser enfadonho.
Por isso convido você a sair um pouco do campo conceitual e mergulhar em ações práticas – nos próximos tópicos – que podem te ajudar no entendimento de como transformar digitalmente a sua empresa.
As características citadas acima têm sido fundamentais na formação da nova geração de negócios orientados digitalmente. Empresas como Google, Facebook e a brasileira Buscapé são grandes companhias, mas ainda assim estão organizadas de forma diferente das empresas mais tradicionais.
Isto se dá devido ao seu arraigado foco em digital – uma cultura e modo de pensar mais granulares, com múltiplas equipes mais enxutas (foco em transformação de dados em conhecimento) e não como um grande organismo com pouca mobilidade e autonomia. A comparação seria algo como um grande navio – por exemplo o Titanic – e um conjunto de centenas de barquinhos altamente eficientes e de fácil dirigibilidade.
Estas empresas entendem que, tanto quanto dedicar seu tempo ao cliente, também é necessário que toda a empresa tenha algum nível de engajamento online, não tratando o digital como algo que só poderia ser tocado pelo marketing. Ou seja, o digital precisa estar enraizado na cultura da empresa e, por consequência, no comportamento das pessoas.
Principais conceitos e métodos para romper barreiras de uma estrutura lenta e burocrática
Growth Driven Design como estratégia de crescimento gradual da sua empresa
Empresas ágeis precisam de metodologias disruptivas. O GDD é um método onde o desenvolvimento de websites é gradual, ou seja, toda e qualquer mudança é feita em intervalos menores e totalmente orientada ao comportamento de uso dos seus visitantes.
O site passa ser uma importante ferramenta de inteligência comportamental para diferentes áreas da empresa.
Adotar o GDD permitirá que seu website esteja sempre atualizado e de acordo com as necessidades e objetivos da sua empresa e mercado.
Growth Hacking como cultura orientada à números
Growth Hacking é a metodologia para experimentos contínuos e que visa identificar oportunidades de melhorias com notório potencial de ganhos (de acordo com os objetivos da empresa), além de favorecer estratégias específicas com foco em resultados rápidos para o crescimento da empresa.
Metodologia Lean Startup como preceito para a construção de uma cultura menos engessada
Conciliando ideias de marketing, tecnologia e gestão, nasce o termo “Lean Startup“, criado pelo americano Eric Ries.
A agilidade também é mandatória aqui, onde se favorece uma constante interação com os usuários para validar diferentes hipóteses do quanto um produto ou serviço tem aderência no mercado.
Scrum como metodologia de gestão do seu projeto de transformação digital
Trata-se de uma metodologia ágil para gestão e planejamento de projetos. Os projetos são divididos em ciclos chamados Sprints, nos quais um conjunto de atividades deve ser realizado.
Para entender melhor sobre como conceito se aplica à diferentes tipos de empresa leia o artigo da OpenView, “Why agile isn’t just for technical teams“.
Ações práticas que colaboram para a transformação digital da sua empresa
Colaboração: Comunicar-se abertamente todos os dias com o time inteiro através de stand-up meetings pode ser uma ótima maneira de reforçar o trabalho – ágil – em equipe, além do notório reforço da conexão pessoal.
Agilidade e interação horizontal: Desmembre os projetos em entregas menores e mensuráveis e com controles menos espaçados, permitindo que pequenas mudanças aconteçam mais rapidamente (rodar o PDCA – plan-do-check-act – em espaço menor de tempo). Para isso você pode utilizar metodologias de gestão de projetos ágeis, como o Scrum. Empoderamento das pessoas na tomada de decisões pode ser um fator crítico de sucesso.
Promova uma cultura que faça do digital o padrão: incentive as pessoas a pensarem menos burocraticamente. A primeira ação prática seria tornar clara qual é a visão de futuro para o digital dentro da sua empresa e quais são os projetos e ações que contribuem diretamente para o alcance dessa visão. Em uma clara conversa:
- Defina o que é o sucesso desse projeto e como ele será medido;
- Crie um compromisso claro com o propósito – com definição de responsabilidades;
- Empodere os colaboradores e os incentive a saber como priorizar as atividades que verdadeiramente contribuem para essa transformação digital.
Quando você começará a transformação digital da sua empresa?
Existe uma série de ações práticas que podem ser tomadas, porém a mais latente é sua iniciativa em dar o primeiro passo. Medo e conformismo não deveriam ser capazes de nos segurar, por isso, resistir ao digital e à essa ruptura cultural só retardará o processo de transformação da sua empresa.
A verdade é que poucos são realmente capazes de entender o problema – ou estado atual – e então enxergar uma solução para essa ruptura. Sua empresa não se tornará uma organização orientada ao digital do dia para noite. É preciso dar o primeiro passo. Logo, a pergunta que deixo é: se não iniciar com você, com quem será?
Post escrito por Eduardo Fonseca, CEO & CMO da Agência WCK.